Mísia apresenta "Senhora da Noite" em Gaia e Ovar

A fadista Mísia apresenta o novo álbum, "Senhora da Noite", que inclui o único poema conhecido de Agustina Bessa-Luís, "Garras dos Sentidos II", na próxima quinta-feira em Gaia e, na sexta, em Ovar.
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O álbum marca o regresso da cantora ao figurino do fado tradicional que não gravava exclusivamente há dez anos, e que qualificou como "pacífico, na medida em que é uma ideia simples e sem mistura de géneros".

Além, de Agustina Bessa-Luís, de quem canta "o único poema que se conhece desta grande prosadora", na música do Fado Corrido, o CD "Senhora da noite" é constituído apenas por poemas escritos por mulheres e marca a estreia de Mísia como poetisa.

"Uma pessoa que canta Lídia Jorge, Vasco Graça Moura, Agustina, tem de ter alguma prudência e daí não me atrever", disse a fadista que revelou ser de sua autoria uma letra no álbum "Ritual", de 2001.

Para este CD a fadista escreveu "O manto da Rainha" que canta na música do Fado Menor. Por outro lado, tal como fez noutros álbuns, "arranjou" alguns poemas, nomeadamente "Fado da Violetas", constituído por diferentes quadras de Florbela Espanca que juntou "segundo uma determinada linha" e que canta no Fado Hilário, do viseense Augusto Hilário.

Em anteriores álbuns a fadista também "juntou" estrofes de diferentes poemas de autoria de Natália Correia, "E se a morte me despisse", ou de António Botto, "Não me chamem pelo nome", este último incluído no álbum "Garras dos Sentidos".

"Garras dos Sentidos", de 1998, "é irmã deste 'Senhora da Noite'. Foi nessa altura que esta ideia, de um disco só escrito por mulheres, começou a germinar", disse Mísia à Lusa.

A fadista salientou que "é um disco escrito por mulheres mas não sobre o universo feminino, havendo temas desse universo, não é em exclusivo".

Com algumas das poetisas, Mísia já tinha colaborado, como Lídia Jorge ou Amélia Muge. A algumas deu o mote, como aconteceu com Manuela de Freitas, autora de "Sombra" e Lídia Jorge que assina "Tarde longa".

Referindo-se a "Sombra", que canta no fado Primavera de Pedro Rodrigues, Mísia disse que a ideia que deu foi quando na década de 1950, as fadistas iam na rua vestidas e maquilhadas para cantar, pois não havia camarins, e "ouviam frases menos respeitosas por parte de homens, esses mesmos homens que nas casas de fado, quando as ouviam, choravam e as tratavam como santas".

Para "Tarde longa", que canta no Fado Menor, Mísia recordou a Lídia Jorge "a imagem de dois amantes abraçados e estendidos como num lenço de um fado que ela tinha já escrito, mas que ficou órfão e não foi gravado; foi uma metáfora que ela retomou".

"Senhora da Noite" inclui ainda poemas de Adriana Calcanhotto, Hélia Correia, Amélia Muge, Aldina Duarte, Rosa Lobato de Faria, Natália Correia e ainda um que atribuiu a Amália Rodrigues, constituído por diferentes versos de fados que a fadista cantou, o tema intitula-se "Rapsódia Amália" e é cantado em diferentes músicas tradicionais, do Fado Corrido ao Fado Alexandrino Antigo, passando pelos fados Lopes, Mouraria, Dois Tons, Meia-Noite, Franklin e Menor.

Mísia canta quinta-feira à noite no Teatro Eduardo Brazão, em Valadares, em Vila Nova de Gaia, acompanhada por Sandro Daniel Costa na guitarra portuguesa, João Bengala, na viola, e Luís Cunha, no violino, no âmbito do ciclo "Concertos Íntimos no Feminino".

Na sexta-feira, Mísia sobe ao palco do Centro de Arte de Ovar acompanhada por este mesmo grupo de músicos a que se junta Pedro Santos, no acordeão.

Depois destes dois concertos, Mísia tem agendado dois espetáculos em França, nos dias 16 e 17 de março, respetivamente em Massy e em Ruão, e, no dia 22, participa numa homenagem ao escritor Vasco Graça Moura, no Teatro do Campo Alegre, no Porto.

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